sábado, 13 de outubro de 2012

A beleza está nos olhos de quem vê... e o racismo, também...

Cresci no meio de livros de Monteiro Lobato. Minha mãe tinha uma coleção enorme de livros do Sítio, todos de capa dura e verde com letras douradas, que ocupavam uma estante inteira na sala. Li todos, todinhos. Lembro do esforço que era subir na estante para pegar os livros e do cheiro deles até hoje... Por isso, para mim foi uma surpresa quando, há cerca de um mês, começou a polêmica em torno da obra da Monteiro Lobato... está sendo acusada de conter elementos racistas...

Estava no trânsito dia desses e pensei... se a moda pega, logo logo vão proibir as rádios de tocar aquela música que diz 'eu não sou cachorro não prá viver tão humilhado... eu não sou cachorro não para ser tão desprezado'... lembram? Valdick Soriano poderia ser acusado de incitar maus tratos a animais... e outra... Tim Maia lá no ceu pode ser acusado de homofobia em 'vale tudo, só não vale dançar homem com homem nem mulher com mulher'... e aí, como fica?

Penso que o artista cria e o público consagra... e se o público consagra é porque se enxerga, se identifica com a obra. Então não é Monteiro Lobato que é racista nem Valdik Soriano que maltrata bichos e nem Tim Maia homofóbico... no caso de Monteiro Lobato, talvez o racismo esteja mais na cabeça de quem enxerga racismo em suas páginas porque eu, sinceramente, não me tornei uma pessoa racista apesar de ter passado minha infância enfiada nas suas estórias...

domingo, 7 de outubro de 2012

Bonito é pouco. Bonito deveria se chamar Maravilhoso!

Muitas vezes fui a Campo Grande. Certamente mais de 10... e muitas vezes senti vontade de dar uma esticadinha até Bonito... mas no corre-corre, trabalha-trabalha, nunca tinha feito isso. Mas, desta vez, deu para ir lá sentir o gostinho. Foi apenas um dia, suficiente para dois passeios. De manhã, no Aquário Natural e à tarde Arvorismo no Ybira Pe (que já contei há pouco). 

A chegada. Tudo muito limpo e organizado. Dica: tem que reservar horário pois, principalmente na alta temporada, os passeios em Bonito são bem concorridos.

Vista da mata. Um verde de encher os olhos!

No Aquário Natural, eles emprestam a roupa, máscara, snorkel e os crocs. Tudo muito organizado mesmo!

A gente anda uns 400 m até chegar na nascente do Rio Baía Bonita. Neste local, a gente vê várias nascentes borbulhando, é lindo!

Devidamente paramentada para passar 2 horas dentro da água. Entra de sapato e tudo.

Nasci prá esta vida rsssssss

Piraputangas

As piraputangas dominam a cena, mas contei umas 12 espécies de peixes em 400 m de rio. O percurso todo tem 800 m, mas nadamos apenas 400 m ainda tínhamos o arvorismo para fazer logo em seguida.

O rio é lotado de conchas, conchas enormes. Depois JC me explicou que isso explica por que a água é tão límpida. As conchas são ricas em carbonato de cálcio, que precipita matéria orgânica.
Indo pra tirolesa. Esta é curtinha e a gente cai dentro da água. 

É... Bonito deixou aquele gosto gostoso de quero mais!

i7 com Windows 3.1

Minha avó está com quase 90 anos... tem Alzheimer, Parkinson e sobreviveu a um AVC há cerca de 4 anos. O AVC foi identificado muito rapidamente, então não deixou sequelas... e o Parkinson está medicado e ela não tem tremores... mas o Alzheimer... esse sim pega. Pelo olhar dela e pelo tom de voz, dá para saber se ela está presente ou se é apenas o corpo dela que está lá... Meu avô, primeiro marido dela, faleceu há cerca de 20 anos. A mãe dela, há bem mais tempo do que isso. No entanto, tem dias em que minha avó tem certeza de que os dois estão vivos. Hoje, por exemplo, ela me falou que estava na casa do meu avô... perguntei como ele estava e ela falou que estava bem. Já aprendi que, nos dias em que a mente dela não está presente, não adianta nada a gente argumentar nem tentar comprovar que ela está errada. Aprendi isso durante uma refeição, quando ela perguntou se a mãe dela estava bem e eu disse que sim, que ela estava muito bem lá no ceu... ela ficou me olhando como quem não estava querendo aceitar que a mãe dela morreu...

Nestas horas, fico pensando... talvez o Alzheimer seja uma forma de nos protegermos da dor de ver as pessoas queridas partirem. Nestas horas, também, fico pensando que a gente deve se esforçar para que nossa vida seja, na medida do possível, uma sequência de dias serenos... pois quando ficarmos velhinhos, vamos voltar a vivenciá-los... talvez o alemão seja, afinal, uma forma de acerto de contas com nosso passado... ao longo da nossa vida a gente vai desenhando o paraíso ou o inferno no qual vai viver quando o alemão bater à nossa porta...

E o mais interessante é que, organicamente falando, ela está ótima. Fazendo uma analogia, é como se fosse um processador i7 rodando Windows 3.1... ou uma Ferrari dirigida pelo Mr. Magoo...

Muito melhor do que desafiar-se é vencer-se

Nunca fui assídua praticante de esportes. Menos ainda de esportes radicais. Por isso, quando me vi a 50 cm do chão de um circuito que duraria cerca de 1h30 e 400 m, quase desisti. Não houvesse logo atrás de mim uma pessoa me motivando a subir, teria desistido certamente. Afinal, pensei, o que estava querendo com aquilo? Não precisava provar nada para ninguém, oras... mas sabia que, se desistisse naquele começo, nunca mais teria coragem de tentar novamente. Aceitei o desafio, respirei e, nos próximos 50 cm de subida, lembrei do velho quadrinho de risco, ou seja, a combinação de perigo e probabilidade... e concluí que, apesar do impacto de 20m em queda livre ser considerável, a probabilidade disso acontecer era negligível... poderia, sim, ficar pendurada na corda vida pelas solteiras, mas cair, me espatifar... altamente improvável. Então, se o risco era negligível, o negócio era controlar a mente e continuar subindo.

O circuito de arborismo do Ybira Pé tem 400 m, já falei... são 14 trechos entre caminhada sobre fio de aço, sobre corda, sobre pedaços suspensos de madeira e que culminam com uma tirolesa. A guia, cujo nome não lembro mais se era Manoela, Monique ou Nicole (o pavor do momento não permite lembrar rsss), acompanhou o tempo todo na frente e ia tirando fotos... e meu anjo-da-guarda, JC, o tempo todo atrás me ajudando a trocar os cabos das solteiras entre um trecho e outro, quando necessário. Por volta dos 5 metros de altura, perguntei a ela se o que estava tremendo era a corda ou se era eu. E ela respondeu o que eu já imaginava: era eu. Ai.

Dos 10 aos 15 m, dei uma relaxada porque já não faria grande diferença cair de 10 ou de 15 m...  a vista lá do alto é linda. A gente enxerga longe, longe... até que chegamos a um trecho de cordas que era uma subida íngreme... tinha visto este trecho lá do chão e me perguntei se teria perna para aquilo. Devia ter um ângulo de 60 graus. Aí, faz a conta: 60 graus de declividade, 15 metros do chão e eu presa por dois cabos à corda vida? Ou melhor, à vida??

No final do trecho de corda, mais uma surpresa: uma escada que levaria a uma plataforma de onde partia a tirolesa. Sem brincadeira. Eu queria passar o resto da minha vida abraçada àquele ipê roxo maravilhoso... Descer de lá dos 20m prá quê? Enfim, na falta de outra opção, vamos lá encarar a descida através de um único cabo, presa por um único ponto... JC foi primeiro e deu para ter uma noção do tempo que iria demorar entre sair da plataforma de 20 m até chegar à outra, que devia estar a uns 3-4 metros abaixo... dizer que senti medo seria uma mentira, uma grande mentira. Senti foi pânico. ficar lá parada à beira da plataforma, olhar lá embaixo... dá aquele frio na barriga. Mas já que não tinha outro jeito e já tinha chegado até lá... pulei. Pulei e para minha surpresa a sensação é maravilhosa. Depois que a gente pula, o medo vai embora, é uma alegria muito grande e a gente fica querendo que aquele pulo dure para sempre. Prá terminar, um rapelzinho de uns 8 m, coisa à toa...

Entrada do Ybira Pe

Nesta hora, a mente esvazia... o que realmente importa é manter-se em cima da corda...


Andar olhando a copa das árvores de cima prá baixo é uma sensação incrível!

A subida final prá tirolesa. Pernas, prá quê te quero!

"O homem tem que ter domínio de si mesmo, para tornar-se senhor do seu destino e comandante de sua alma." (Eduardo Lino). Saio desta brincadeira mais confiante, mais segura e muito feliz por ter tido coragem de desafiar e vencer meus medos.