sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Família é tudo de bom

Esta semana foi puxada. Campinas na terça, Sampa na quarta, Campo Grande na quinta e BH na sexta. 17 reuniões e uma banca em 3 dias. Mas... correria à parte... tento sempre dar um jeitinho de ver minha família. Afinal, ver a família é sempre reconfortante como um prato de canja quente em dia frio. Só... que minha família transcende as relações instituídas com base em compartilhamento de genes, digamos assim... e sou feliz por ir acumulando, ao longo do caminho, pais, mães, filhas, filhos, irmãos e irmãs...

De 1989 a 1993, fui mãe da Maria do Carmo, a Cá. Foi minha primeira e a maior amiga que tive durante a graduação. We were like peas and carrots. Feijão com arroz. Unha e carne. Morávamos juntas, fazíamos os trabalhos de grupo juntas, nos divertíamos juntas. Ela fissurada por Felídeos, eu por Viperídeos. Ela sabia tudo de Star Wars, eu nem sabia do que se tratava Star Wars. Mas eram diferenças tão pequenas que não ameaçavam em nada nossa amizade. Nós tínhamos (e temos) valores muito parecidos e isso estava (está) acima de qualquer diferença aparente.

Por que eu a mãe dela e não o contrário? Não lembro. Por que não irmãs e sim mãe e filha? Também não lembro. O meu consolo é que ela também não se lembra. E, creiam-me, isso me consola de verdade, pq se tem uma coisa que a Cá tem (ou tinha) é uma memória que faz com que me sinta um ser desmemoriado. Mas tudo bem, realmente não me importo em me sentir assim. Tê-la por perto era sinônimo de ter a minha própria história por perto. Ela lembra ou lembrava da minha vida mais até do que eu.

E o engraçado e melhor de tudo... é que, apesar de termos passado por um processo de especiação alopátrica devido a escolhas que cada uma vez para a própria vida... ao encontrá-la terça-feira tive a sensação de que estávamos retomando uma conversa de semana passada. Quase 20 anos se passaram e ela continua lá - amigona, inteligente, divertida e deliciosamente sarcástica. E agora é mamãe de uma linda menininha de cabelos cacheados e olhos curiosos. Fiquei feliz demais de reencontrar minha filha perdida e mais feliz ainda de conhecer minha netinha. Espero que não leve 20 anos para vê-las novamente. Sei que não vai demorar tanto assim.


1989, em Paranapiacaba - excursão da disciplina de Criptógamas com Soninha, Paula e Cá. Quatro gerações de uma família partenogenética: Paula > Regina > Cá > Soninha

2011, numa noite chuvosa em Sampa

Um comentário:

MC disse...

Lembra disto:

FELINIANA

Fitei a janela com olhos sonolentos. O vidro tinha reflexos coloridos, decompondo a luz da manhã. Creio que movi o braço esquerdo à procura do relógio, e, nesse momento, percebi não estar sozinha.

***

Sei lá. Hoje, vendo as coisas em retrospecto, entendo que minha memória era e é emotiva e muito focada. Eu a exercitava todos os dias, recriando lugares, refazendo diálogos, revisualizando pessoas e coisas relevantes para mim.
Creio que era um exercício um romântico, imaturo e, no fim das contas, masoquista.
Se eu fosse um escolher um símbolo cultural para tentar explicar isso, seria uma carta de tarô: a Morte invertida. É a recusa em "let go of things", a desvontade de se desprender dos momentos e seguir em frente, tocar a vida.
Era isso que me fazia sofrer tanto, fosse pelos traumas da infância ou pelos amores não correspondidos.
Há 10 anos, mais ou menos,eu estava presa num momento bem ruim. Escutei muitos conselhos de muitos amigos, mas eu não queria realmente ouvi-los.
Aí me aparece o Rodrigo. Ele ainda tem o dom de me encontrar quando eu mais preciso dele. Conversamos longamente umas duas vezes naquela época. E ele me fez ver como eu era romântica, ingênua e masoquista.
De lá para cá, eu comecei a me dedicar a um outro exercício. O da felicidade. A vida é uma bola de gude.
Tem seu preço, claro. Algumas lembranças se apagaram de leve, outras se perderam. Mas, tudo bem. Os sentimentos ainda estão intactos. Eu posso não lembrar por que você era minha mãe, mas ainda sei como isso era bom.

Beijin,