domingo, 20 de março de 2011

Será que se eu passar pelo Salão Vermelho 1000 vezes me transmutarei de japonesa a mineira?

Moro em Belo Horizonte, ou melhor, tenho endereço fixo em Belo Horizonte desde agosto de 2008. Minha vida funciona mais ou menos assim: durante a semana, viagens a trabalho. Raramente passo uma semana inteira em BH. E quando estou em BH o roteiro é Sagrada Família - União - Sagrada Família... e aí acaba que não vivencio a cidade. Chega o final de semana e quero apenas ficar no meu cantinho, curtir o silêncio, pintar, costurar, repor as energias... botar a vida em dia, enfim.

Mas hoje... hoje depois de muitos domingos emburrados... hoje amanheceu um domingo lindo em BH! E então deu ânimo para botar tênis e ir para a Pampulha. Saí de casa disposta a alugar uma bicicleta (programa que estava adiando há mais de ano) e dar umas voltas no Parque Ecológico... enfrentei um trânsito danado por causa da Corrida das Estações... mas tudo bem... estava determinada hoje a pedalar... chegando lá... frustração... o bicicletário está fechado para manutenção... mas tudo bem... já estava lá mesmo e fui caminhar... Evento raro. Raríssimo. Porque eu gosto de andar... mas de andar em cidades que não conheço... aí eu ando horas seguidas olhando tudo, captando ao máximo a alma da cidade... mas andar em parque... zen desse jeito? Evento raro. Muito raro. Na verdade, não tenho lembrança de já ter feito isso na vida antes... andar por andar em parque sem direito a overdose de informação e sem celular e sem baixar emails de 15 em 15 min? 'Jamé'...

Mas tudo tem uma primeira vez... e foi bom.


Dentro do Parque Ecológico tem um Memorial à Imigração Japonesa. Eu não sabia disso. Até já tinha ouvido falar por alto, mas nunca tinha me disposto a ir conhecer. No caminho, pensei que encontraria um tradicional jardim japonês, com fontes, pedras, ginkgos e tuias... e azaleias... mas... chegando lá... fui surpreendida por uma construção que eu poderia jurar que era obra do Niemeyer... mas não é... Na entrada, um pouco da história da imigração japonesa em Minas Gerais e uma linda bandeira do Japão em concreto. Não sei por quê, mas estar lá me emocionou. Acho que por andar com o meu lado nipônico aflorado... e também pela situação que o país está passando por desastres naturais. E então... você vê uma rampa e se sente compelido a subir... e um pequeno aviso dá as orientações para adentrar o 'Salão Vermelho'...

Mais uma surpresa. O Salão Vermelho é exatamente isso. Um salão vermelho. Todo vermelho. A planta baixa é circular fazendo uma referência à bandeira japonesa. E no chão... futons também circulares e também vermelhos. A perfeição. Você pode usar o espaço para descansar, desacelerar, meditar... ou apenas passar o tempo... ouvindo o vento lá fora bater nas folhas. Fiquei lá dentro um bom tempo me sentindo dentro de uma hemácea... ou do útero da minha mãe... ou do sol... Zen? Mega zen.

Depois de relaxar... você desce por outra rampa e dá de cara, agora, com uma bandeira de concreto do estado de Minas Gerais. Isso também me pareceu super inusitado pq nunca tinha me dado conta da semelhança das duas bandeiras. Fundo branco e forma geométrica regular vermelha no centro. Perfeito. Muito bonito e simbólico. Vou precisar morar muitos anos em BH para poder conhecer esta cidade... e para poder voltar no Parque muitas e muitas vezes.

Viajar é bom. Estar na minha doce BH é bom. A vida tornou-se, enfim, uma sequência de dias felizes.





Leia mais sobre o Memorial da Imigração Japonesa, em BH

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