O estado do Amapá é o único no Brasil onde já entrou a Mosca da Carambola, uma praga das mais perigosas, que pode causar danos irreversíveis a toda fruticultura baiana e brasileira. A praga entrou no Amapá através da fronteira com a Guiana Francesa, onde não há qualquer fiscalização fitossanitária no lado brasileiro. Foi pelo Amapá que também entrou no Brasil, em 1950, a Doença de New Castle, que ataca a avicultura; o Moko da Bananeira, em 1976, e a Mosca da Carambola, em 1996.
Estarrecido com as condições da defesa agropecuária nas fronteiras dos Estados do Norte do País com o Peru, Colômbia, Venezuela, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa, o secretário da Agricultura da Bahia e presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Agricultura (Conseagri), engenheiro agrônomo Eduardo Salles, afirmou que esta é uma questão de segurança nacional, explicando que o Amapá é uma das portas de entrada de pragas e está escancarada. “Essas pragas que já entraram no Estado podem ser disseminadas para outras unidades da Federação, e essa é a nossa maior preocupação”.
Com essa visão, menos de 24 horas depois de assinar com os Estados de Rondônia, Acre, Pará e Amazonas, em Porto Velho, um Termo de Cooperação Técnica “guarda-chuva”, relativo à defesa animal, vegetal e inspeção sanitária, Eduardo Salles e Paulo Emílio celebraram o acordo com a Secretaria de Agricultura do Amapá. O foco da parceria é a prevenção e às pragas presentes nos países fronteiriços com os seis estados da região Norte, visando impedir ou retardar a entrada no Brasil de cerca de 140 pragas. Entre elas estão a Moniliase do Cacaueiro, mais devastadora que a vassoura-de-bruxa; a Mosca da Carambola, uma das mais destrutivas dos frutos carnosos; o Acaro Vermelho das Palmeiras, que agride o coco, banana, dendê e Palmito, e a Sigatoka Negra, que pode prejudicar muito a cultura da banana, dentre outras.
O secretário do Amapá, José Roberto Pantoja, disse que “o Amapá assina o termo com a Bahia com a visão de ajudar a proteger o Brasil”. Ele destacou que, “hoje, o Estado do Amapá, principalmente a área de fronteira realmente não está devidamente protegida contra a entrada de novas pragas e claro que a partir do momento que entrar no Amapá, pode avançar para os demais estados do Brasil”.
Para o secretário Eduardo Salles, o termo de cooperação técnica representa uma antecipação a um problema que pode vir a acontecer. “Nosso objetivo imediato é fechar ao máximo as portas do Brasil para a entrada destas pragas, e ao mesmo tempo combater as pragas que já entraram, evitando assim sua disseminação para outros estados, como é o caso da Mosca da Carambola”, Explicou também que, “numa outra frente imediatamente temos que trabalhar com nossos órgãos de pesquisa visando desenvolver variedades resistentes e controles biológicos e químicos, para que a gente não sofra tanto do ponto de vista econômico como social caso estas pragas avancem pelo Brasil”.
Danos
Somente para se ter uma idéia do que poderia acontecer, se a Mosca da Carambola entrar somente no Pará que não é um dos estados maiores produtores de frutas do país, projeções feitas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), estimam que em três meses os prejuízos chegariam a U$ 200 milhões. Originária do continente asiático, a Mosca da Carambola está presente na Malásia, Burna, Sri Lanka, Indonésia e Sul da Tailândia. Na America do Sul foi detectada no Suriname em 1975, Guiana Francesa em 1989, no Amapá em 1996.
É considerada uma das mais destrutivas dos frutos carnosos, atacando mais de 30 espécies de fruteiras de importância econômica. Tem como hospedeiros primários; carambola, goiaba, manga, maçaranduba, sapoti, jambo vermelho, e laranja caipira entre outros. A Bahia é o segundo maior produtor e o maior exportador de frutas do país, sendo, por exemplo, o maior produtor nacional de coco, maracujá, cacau, guaraná, mamão, manga, graviola e o segundo maior produtor de laranja, banana, marmelo, limão, melancia. Assim, impedir que a praga da Mosca da Carambola se propague para outros estados é uma questão que se torna crucial para a Bahia, mesmo estando distante dos estados do Norte.
Em viagem de trabalho ao Amapá, acompanhado pelo diretor geral da Adab, Paulo Emílio Torres, e o diretor de Defesa Vegetal, Armando Sá, o secretário Eduardo Salles tinha entre outros o objetivo de visitar as barreiras sanitárias no Oiapoque, extremo Norte do Amapá, divisa com a Guiana Francesa, para ver com funcionavam, “mas descobrimos que as barreiras simplesmente não existem. Não temos nenhum fiscal agropecuário na fronteira, por onde já entraram a Mosca da Carambola, o Moko da Bananeira e Doença de New Castle”, disse Salles, surpreso.
Fonte: Revista Produz
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